O Eterno Retorno

Há um ano que ele não a via. O último e casual encontro havia acontecido num bar, perto da casa dele, onde ele tinha ido com um ou dois amigos, não lembrava-se direito. Lembrava-se, sim, de ter "tomado uma ou duas a mais" e encontrá-la meio alegre; eufórico até. Ela foi carinhosa na saudação e na troca inicial de palavras, mas não quis saber de sentar na mesa dele, que fez sinal várias vezes, tomado por aquela insistência característica dos bêbados. Ele, meio sem entender, concluiu que as coisas haviam mudado entre eles. Concluiu que, para ela, ele não era mais nada; além de um simples e, portanto, inofensivo: amigo. E só.

Desde que a conheceu, ela tinha sido insinuante, provocativa, amável, e muito delicada com ele. Provavelmente amor à primeira vista, que ele nunca soube como corresponder. Talvez porque, naquela época, ele estava apaixonado por outra e não tinha olhos para ninguém, apesar de perceber o que se passava. Ela tinha lhe dedicado inúmeros olhares, sorrisos, elogios, abraços, beijos e até sonhos (Um dia chegou contando que sonhara com ele!). Mas o mundo dele era outro: era prisioneiro de um amor que nunca iria se concretizar plenamente, apesar de suas esperanças quase infinitas. Mesmo assim, ele retribuía seus olhares, toques, sorrisos, etc; porque, afinal, ela sempre foi muuuito interessante e também era bom ser amado.

O fato é que ela não o esperou, e namorou outro. Mas cumplicidade deles não morreu, ainda que reduzida a olhares furtivos e a conversas esparsas. O que ficou marcado nele, como lembrança daqueles dias, foi que ela sempre o apoiara, sempre o entendera, sempre lhe dedicara uma afeição que jamais recebeu. E, nas férias, quando ele fazia algo como um balanço de todos os seus relacionamentos, a conclusão era sempre a mesma: nunca tinha sido amado por alguém como tinha sido amado por ela.

Em todas as férias até aqui, porém, sua vontade incrível de vê-la, de falar com ela, morria quando pensava no outro lado. E se, para ela, ele não fosse realmente nada? Ligaria para dizer o quê? O que teria para contar? Será que ela iria querer ouvir? Ela, provavelmente, no começo, se mostraria surpresa e atenciosa por ter sido lembrada, mas, logo depois, o assunto morreria e ele, envergonhado e sem saída, encerraria a ligação, liquidando com qualquer outra tentativa futura de reaproximação. Seguir, portanto, por modos convencionais, seria um desastre.

J. D. Borges