Teia de Alcance Mundial

I am here, as you are here, as you are me — and we are all together.

Qual a menor distância (média) entre dois seres humanos (conectados)? Onde estão as maiores e mais acessíveis bibliotecas da Terra? E os livros mais baratos e mais raros? E o que dizer dos CDs há décadas fora de catálogo, em promoção ou recém-lançados? Fora qualquer outro tipo de informação pontual ou não, específica ou não, física ou não, comprovada ou não, sobre pessoas, lugares, épocas, bens e serviços mundiais? Estão todos lá — na WWW.

Melhor: é de graça, não tem dono e está aberta para você ou para quem quiser fincar bandeira ou tomar posse de terrenos ilimitados. Para completar: não tem porta, nem de saída nem de entrada, você cai direto onde estiver mais interessado, sem compromisso de permanência, de compra ou de adesão, indo e vindo a qualquer hora do dia ou da noite, partindo de qualquer ponto minimamente civilizado do globo.

Um verdadeiro antídoto para as demais mídias: inchadas, vendidas, vazias de razão e de sentido. Ainda que o rádio não tenha se extinguido com a televisão, ainda que o celular não tenha acabado com o telefone, esse mar de jornais e revistas, esse inferno de canais e de redes privativas, esse zumbido e esse berreiro das AMs e FMs da vida, essa poluição de outdoors e essa invasão de marketing — isso tudo tende a escorrer pelo ralo, desinflando egos, desbancando pseudobeldades, desautorizando essa gente desqualificada e nauseabunda que hoje emite juízos de opinião, como se fossem verdades absolutas.

A Internet, assim, não tem o estímulo e a benção dos atuais déspotas da “cultura” e do showbiz. Não lhes parece justo competir de igual pra igual com milhares, daqui a pouco milhões, de cabeças de outras línguas, de outras nacionalidades, de outras eras. Sua produção, predominantemente formal ou plástica, perde o apelo quando convertida para HTML, quando ajustada às limitações audiovisuais da Grande Rede. Sem poder maquiar sua incompetência e sua ignorância, os falsos ídolos de hoje preferem perpetuar fórmulas atrasadas de dominação intelectual e estética — a arriscar um recomeço num universo em que, para se sobreviver, é preciso ter fundamentalmente algo a acrescentar.

Exceções à parte, a produção (e a navegação) na World Wide Web está primeiramente baseada na veiculação de textos; secundariamente, na disposição de imagens (de pequenas dimensões e de baixa resolução); e, finalmente, na reprodução de sons (breves, em “mono” e low-fi) —impossibilitando, na prática, combinações híbridas e sofisticadas entre imagem e som, entre movimento e trilha sonora (transmissíveis em tempo real). Logo, a Web não dá margem à falta de conteúdo, nem a recursos puramente sensoriais, de exposição intermitente e repetitiva — típicos das demais mídias, infestadas de embalagem e de “grandes produções” gráficas ou cinematográficas.

A Internet simplesmente não tem piloto automático. Você é quem clica no link que te leva a uma outra tela. Você é quem gira a manivela. Você é quem constrói seu caminho, navegando por entre às páginas. Você é quem descreve sua trajetória de visitas, de descobertas, de encontros e de incompatibilidades. Você é quem interrompe e você é quem recomeça. Não existem seções ou blocos pelos quais tem de passar toda a vez em que estiver atrás de alguma coisa ou tentando chegar a algum lugar. Você está livre para interagir à vontade. Você é seu senhor e seu mestre. Nada mais.

Sem contar que o método, a estruturação e a constante atualização das bases de dados da WWW criaram nos usuários um hábito “historiográfico”, de pesquisa e de comparação, de análise e de seleção — invalidando qualquer tentativa de repetir a mesma receita, de devolver o “velho” sob a tarja de “novo”, de congelar o “consumidor” nos confins das mesmas banalidades e gostos de há um ano atrás. Se o capitalismo era chamado de selvagem, ao estimular a concorrência sem entraves, o que dizer da rede mundial, que estende a competição a domínios continentais, atemporais e ineditamente democráticos?

Passa, logicamente, pela educação, o despertar para a importância e para a potencialidade da Teia de Alcance Mundial. Requer uma atitude mais ativa, mais crítica, mais empreendedora do que a usualmente adotada em relação a outros meios de comunicação. Na Internet, a escolha é praticamente obrigatória, pessoal e intransferível, — pois as opções para qualquer coisa que se queira fazer são virtualmente ilimitadas, longe da inércia induzida a que estamos acostumados. Do mesmo modo, o uso que se faz das suas inúmeras possibilidades depende exclusivamente da capacidade individual de converter esse “monstro”, de dimensões e de densidade incalculáveis, em matéria-prima e em produto final diferenciados.

É mister, portanto, prezar e garantir o funcionamento e a manutenção de tão salutar veículo, rico em promessas e em realidades, expandindo ainda mais seu alcance e descomplicando ainda mais o seu uso. Cuidando sempre, é claro, para que não caia no buraco negro do comercialismo e da apelação desenfreada — conforme ocorrido com tantas outras invenções igualmente notáveis...

J. D. Borges