meu caro escriba:
já que voce despertou meus instintos de polemista, lá vai:

J. D. Borges wrote:

> PAÍS DO FUTEBOL

A "construção"de uma nacionalidade passa por séculos de uma "obra", onde nada parece fazer muito sentido, os elementos que irão compor o "acabamento" ainda estão separados.

Ou voce pensa que o Carnaval que a França vive é fruto apenas da nacionalidade francesa? Tenho certeza que não. O Brasil precisou mostrar para o mundo durante quatro copas e algumas decadas que o futebol é motivo suficiente e digno para aglomerar uma nação. Veja que os antecedentes franceses de uma comemoração tão nacional implicavam em sangue suor e lágrimas: guerras e politica. O Brasil mostra ao mundo que a inocencia de uma partida de futebol cataliza tanto quanto.

Por que não se encher de orgulho por esta lição de civilização? Sim, pais onde o futebol é parte da nação, porque não?

> A derrota da seleção brasileira, na partida contra a França, representa, ainda que metaforicamente, toda a falibilidade de um modelo de sociedade que se arrasta por decênios afora. Quando vamos acordar para os males que afligem não só aos nossos jogadores mas a todos os habitantes da chamada Terra Brasilis?

E quem disse que a derrota não constroi, não ensina? Prefiro que sejamos despertados por um fracasso no futebol que por uma disputa nuclear com a Argentina.

> Desorganização
> O caos reinante no campo é reflexo do caos reinante no país inteiro. Ninguém sabe que posição ocupar, ninguém cumpre com as funções para as quais foi designado, ninguém abraça objetivos verdadeiramente comuns. Assim, só fazemos tapar buracos uns dos outros --- enquanto os adversários avançam com facilidade, em meio ao eterno carnaval e a secular balbúrdia.

Qualquer guru de administração hoje em dia ensina que a melhor tecnologia de gerencia de recursos é a convivencia com o caos. O mundo é caotico e será cada vez mais. Somente quem tem a habilidade de esperar o inesperado, de acreditar que um lance de genio muda o destino, pode se dar bem num mundo onde a ordem e os sistemas são constantemente demolidos e desmentidos. A bagunça brasileira é altamente construtiva sim senhor. Se há uma capacidade que os brasileiros já demonstram ser caracteristica da nacionalidade é a capacidade de se arrumar no caos diario. Isso também é conhecido como improvisação e como talento. OK, tentar manter a ordem é tentar manter regras comuns, não ter regras tembém. O futuro nos mostra que as possibilidades individuais aumentam, am vez de diminuir.

> Autoritarismo
> Não temos, desgraçadamente, verdadeiros líderes. Apelamos, outrossim,  para burríssimos generalóides --- cegos, surdos e mudos de plantão. Surdos  porque não ouvem a voz dos outros, mudos porque não sabem o que é dialogar,  e cegos porque, apesar de subjugados pela inegabilidade dos fatos, insistem em antiquíssimos pontos-de-vista, em opiniões de amargar.

Acorda, JDB! O MST mostra que os lideres são uma ficção, o que importa é um interesse comum. Os generais estão de pijamas em frente à TV. Aposto muito mais nos talentosos que indicam o caminho para o cidadão comum do que nos lideres hierarquicos. E viva o axé, o forró, o futebol, a macumba, a TV de massas e a falta de raizes e principios que imperam sobre as ruinas de uma herança que não pega, como certas leis. O futuro estará muito bem servido se deixarmos para os interesses comuns resolverem os problemas atuais. Mesmo que isso pareça falta de objetivos ideologicos.

> Individualismo
> A exemplo do que acontecia nas eras Colonial, Imperial e Republicana, nossos heróis permanecem solitários. Não existe tradição, não existe formação, não existe escola de grandes homens no Brasil. Os raríssimos talentos daqui brotam sem que nenhum sociólogo consiga explicar. Morrem por pressão, por estresse, por convulsão --- ou por o quê se quiser alegar. Não se consegue montar o "dream team" do futebol. Nem equipes imbatíveis em tantos outros setores nos quais temos, igualmente, vocação pra ganhar.

E quem falou que temos de ganhar o tempo todo? E quem falou que precisamos de modelos ideais? A rua, aqui no Brasil, é a escola de lideres, que forma guerreiros avidos por resolverem seu problema de sobrevivencia. Não temos inverno que nos ensine as virtudes necessarias para sobreviver no inverno. Se liga, estamos aprendendo a sobreviver no paraiso.

> Favoritismo
> Quem não sabe perder, não sabe vencer. A vitória previamente anunciada trouxe a derrocada de inúmeros dos nossos navios. No entanto, a mídia, o  povo, a elite, os ídolos e craques não aprenderam essa lição tão desgastada: quem posa com troféu, quem senta em cadeira de cargo a ser ocupado será, indubitavelmente, derrotado.

Amigo, essa derrota foi ontem, como ninguem morreu, nenhuma terra ficou arrasada, nenhuma ponte foi destruida, não há órfãos nem viuvas, então a vida continua, depois de uma derrota, e daí?

> Comodismo
> Quem se deita eternamente em berço esplêndido será massacrado (ao som do mar e à luz do céu profundo). Os nossos players têm de ser, por nós, arrastados. Como mulas, movem-se graças à berraria e ao gestual desesperado de lúcidos capitães, como Dunga. Perdemos a final da Copa. Perderemos também o fim de século?

Para de chorar, viuva lusitana, se livra desse véu preto, põe a sandalia e caia no samba. Isso é que é ser brasileiro!

> Conformismo
> As desculpas pipocam em toda a parte e o brasileiro aceita com  parcimônia e passividade. Não se apura e nem se verifica de quem é a culpa. Ninguém assume irresponsabilidades. Sacrifica-se um time inteiro, uma nação inteira --- pela insistência em amarelados Ronaldinhos. Poucos os que se prontificam a refutar. Até quando vamos engolir os mesmos usurpadores de sempre?

Até apróxima copa, quando então, novamente, vão entrar em campo os valores individuais de uma patria onde se valoriza e admira a capacidade individual de jogar como ninguem. O conformismo ficou para trás, já era, acredite que nós brasileiros somos um padrão que será invejado constantemente e cada vez em mais atividades. Foi aqui que o mundo viu que a miséria não limita o talento.

Nós só temos que ter calma para conviver sem querer ser nórdicos, saxões, luteranos, imperiais ou qualquer outro modelo de civilização anterior à nossa maneira de ser, tão humana.

A pátria tembém veste chuteiras, é farrista e irresponsavel, se vira e dá um jeito, sem perder o rebolado. As nossas crianças continuarão a crescer ao sol, comendo bananas e jogando bola. As nossas mulheres serão sempre um pouco mais carinhosas, os nosso engenheiros aprenderão a construir com areia e agua, a nossa industria, de tanto falsificar fará melhor que os originais, a nossa escola trará de volta a qualidade essencial da convivencia entre os diferentes, cada um na sua, cada um resolvendo o seu problema e sem que ninguém perceba uma nação já existia.

Fica assim,

Pena