Entenda Porque a Crise Tá Russa

Roberto Campos, nosso intelectual-mor (no dizer de Paulo Francis), endossa a explicação do economista de Harvard, Jeffrey Sachs, de que as crises planetárias têm como esteio "o fenômeno dos recorrentes pânicos financeiros".

Assim foi em 1873, 1893, 1907 e 1931 (leia-se 1929), quando a desconfiança — de que certos bancos não saldariam compromissos firmados — fez com que saques em massa resultassem em quebra-quebras pra todo lado.

Agora, para completar, tudo passa pelo crivo da escala "macro", on-line, globalizada. Basta tomar a informação de que, em cinco anos, o volume de negociações/dia, no Mundo, dobrou, passando de 1 para 2 trilhões de dólares.

Enquanto não se contém a derrubada desse mais recente castelo de cartas, concentremo-nos nos últimos capítulos dessa novela macabra.

Três Tristes Tigres

Era uma vez três economias pra lá de promissoras e pra lá de prósperas na longínqua Ásia.

Tailândia, Coréia do Sul e Hong Kong, durante três décadas, foram exemplo de pujança e competência — crescendo no vácuo do mercado milenar do Japão (segunda economia da atualidade).

Com a estagnação recente da japonesada, a contração monetária norte-americana, a falta de transparência dos governos da tigrada, a ascensão da China e a apreciação equivocada dos analistas e organismos financeiros internacionais, todas essas conquistas foram por água abaixo — sendo que o mundo foi empuxado junto, em outubro do ano passado.

Vermelho Boris

Com população de 147 milhões de habitantes, território de 17 milhões de km2, trespassada por onze fuso-horários, detentora de 30 mil ogivas nucleares operacionais, a Rússia entrou também na jogada depois das trapalhadas de seu urso Boris, que tentava a transição do Comunismo para a chamada Economia de Mercado.

Destemperados, Yeltsin e seus confrades, embaralharam-se — provocando, com suas últimas intervenções, a falência de 18 dos 20 maiores bancos russos, bem como baixas de até 90% nos picos do "mercado de ações do czar" (eleito, em 1997, como o de melhor performance da Terra).

Com as yeltsinianas decretação da moratória e maxi-desvalorização do rublo, veio a insolvência das instituições bancárias supracitadas.

Latinidad Amarelada

Ainda que economicamente a Rússia equivalha a uma Bélgica ou a uma Holanda (no dizer do catedrático Albert Fishlow), aliada ao histórico da crise asiática, ela sugou para o seu buraco negro os ditos emerging markets.

Inclua-se aí la gran nación latinoamérica, todos os povos amarelados — e os Estados Unidos da Brasilidade.

Candidato-Presidente-Candidato

Eis que o terremoto chega ao Brasil, provocando uma evasão de aproximadamente U$ 2 bilhões por dia, desde a semana retrasada, — e eis que o nosso Presidente-candidato-presidente, após várias bravatas, decide por estancar a sangria, promovendo a maior cacetada desde o pacote de novembro passado: aumenta os juros de 29,75% para 49,75% ao ano (numa noite de quinta-feira mal-assombrada).

Afora as contradições do Candidato-presidente-candidato, que diz e desdiz em questão de horas, tivemos também as participações especiais de "Pedro, o Mala" e de "Gustavo, o Frango" — que, na fritada dos ovos, ameaçaram se arrancar do Planalto (segundo boatos abafados na cúpula governamental).

Real Irreal

Na encruzilhada entre a desvalorização do ancorado Real e a elevação de juros à estratosférica camada de ozônio, Gustavo Chicken e Pedro Insultcase escolheram dar, no povo, a "segunda" lapada.

Alternativa sussurrada, para salvação da lavoura, é o aumento da já exorbitante carga tributária.

Vamos, então, mais uma vez, patrocinar um governo que não faz a sua parte — cortando, por exemplo, os gastos anunciados no fatídico novembro da ressaca asiática.

Governo esse que, graças à fixação dessa nova taxa de juros módicos, produzirá, até o fim de 1998, custos de rolagem da dívida em torno de 26 bilhões de dólares.

Revoltosos contra Chicken e Insultcase

E choveram demonstrações de camaradagem para com os nossos heróis da equipe econômica.

Jânio de Freitas, em muitas palavras, tratou de assim classificá-los: arrogantes, presunçosos, insultuosos, levianos, incompetentes e tolos. Luís Nassif, desenterrando impropérios de colunas ancestrais (dedicadas a outros inomináveis), fez a lavagem retroativa da alma do contribuinte aviltado. Maria da Conceição Tavares, com sua inclemente metralhadora-giratória, chamou a situação de "caótica e dramática", a equipe de "arrogante, incompetente e cínica", a ideologia mercadológica de "chocante, aterradora e grotesca", e as elites de "predatórias".

S. O. S. Trópicos

Em nosso socorro, virão os super-poderosos do G-7, comandados por Clinton e suas estagiárias; virão também as taxas achatadas do juro básico americano (obra de, possivelmente, Alan Greenspan, do Fed — o banco central do Tio Sam). Ainda que a ONU nos classifique, em seu Índice de Desenvolvimento Humano, abaixo da Costa Rica, da Colômbia, do Chipre e de Barbados.

Estamos, só pra variar, fodidos e mal-pagos.

J. D. Borges